O pão nosso de cada dia

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Written on 14:29 by Ricardo Paes de Barros

Se depender de meus pais, a mesada não vem. Foi por isso que, no fim de 2007, decidi trabalhar. Meu primo Caio estava precisando de temporários em sua fábrica de embalagens e, fazendo uso do nosso conhecido nepotismo, chamou minha tia e, por tabela, eu para suprir o movimento intenso, que os funcionários efetivados na fábrica não dariam conta sozinhos. Cinco dias com trabalhos manuais, cansativos, que dá preguiça só de olhar. Sendo mais específico, manuseio de caixas de brinde, com complicados sistemas de embrulho e organização. E não é que eu gostei de trabalhar, mesmo quase morrendo? É uma sensação ótima poder ganhar seu próprio dinheiro a partir de seu trabalho duro. Não foi muito, mas suficiente para comprar o que queria e guardar um pouco. Enfim, ajudou.
2008 resolvi que não era necessário repetir tudo aquilo. Eu até queria o "salário", mas a preguiça veio e não ajudei em dezembro. A compensação veio em janeiro: me ligaram, precisavam de mim. E lá estou eu, desde quarta-feira acordando às 8h30 da manhã e voltando às 19h da noite, empacotando uns batons para uma grande empresa de cosméticos brasileira.
Eu sei o que você está pensando: são férias, não faz sentido eu fazer isso. Eu acho que, entretanto, faz. Passa o tempo, distrai, espairece. Você pode descontar sua raiva abrindo os milhares de pacotinhos e tacando-os no lixo. Fora a realização de você ter cumprido um dever (missão cumprida) e claro, o motivo principal, o pagamento que virá nos dias subseqüentes.
E é trabalhando (se é que posso usar essa palavra) que você vê o quanto o brasileiro sofre. Eu já estou achando dureza começar a trabalhar às 9h30 e trabalhar sentado numa sala com ar-condicionado, mas imagine o resto do pessoal da fábrica, que chega às 7h30, trabalha no "chão-de-fábrica" que é uma sauna e, após fazer hora extra porque é preciso entregar X caixas no dia seguinte, tem que pegar três conduções até a casa em Cotia.
Mais do que o salário, legal também é aprender a valorizar esse pão nosso de cada dia, isso sim...

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1 Comment

  1. Anônimo |

    Bela descrição e gostei da sua idéia quanto a valorização do pão nosso de cada dia.

     

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