Carros bonitos

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Written on 09:55 by Ricardo Paes de Barros

Há um ditado da língua inglesa que fala que a beleza está nos olhos de quem a vê – ou coisa parecida. Em outras palavras, é um critério subjetivo. Costumava me espantar, mas hoje já me acostumei, com manifestações do tipo “mas que porta linda!”, em referência à entrada de um apartamento. Mas é só uma porta! “Não, não é só uma porta, olha os detalhes! Maravilhosa!”. OK. Quem quer ver beleza em qualquer coisa, acaba achando, mesmo que ninguém mais ache. É mais ou menos a mesma coisa com carros.
Nos dias de hoje, há um surpreendente vício de achar qualquer tipo de carro “não feio” bonito. Não consigo acreditar em pessoas que acham o Fiat Stilo um carro bonito. Há uma linha tênue, é importante assinalar, que separa o termo bonito – na minha opinião, um adjetivo que em seu sentido consagrado (legitimamente bonito), é alcançado por pouquíssimos carros – de bem resolvido, que acompanha as tendências, etc. Qualquer carro nos dias de hoje pode, por meio de um bom trabalho da área de marketing e design, ter seu desenho considerado “bem resolvido”. É o caso do próprio Stilo, nesse caso não há o que negar. Trata-se de um design equilibrado, bem feito; enfim, verdadeiramente bem resolvido, mas que não chega no aspecto de verdadeiramente bonito. Pode ser bonito o farol, o painel de instrumentos, a roda; mas de forma geral, não. Não chega a empolgar.
Mas o que é um carro realmente bonito?
Na minha opinião, um carro realmente bonito é aquele cujo design não só é bem-resolvido como, de forma única e diferenciada, faz o coração da gente bater mais rápido, causando um legítimo frenesi. Um carro bonito consegue se vender apenas pelo design, que é um fator emocional determinante na compra. Um Gol, por exemplo, não se vende pelo design, e isso não é segredo para ninguém. Quando do momento de compra, o consumidor em potencial do Gol pensa mais em fatores puramente racionais, como consumo, preço de revenda, pacote de equipamentos e esses assuntos burocráticos e chatos. Que atire a primeira pedra quem dizer ao amigo: “me apaixonei pelo design do Gol, que carro lindo! Comprei na hora, sem fazer um test-drive”.
Talvez essa diferença entre os fatores racionais e os fatores emocionais, que pesam na compra de um carro, explique por que automóveis mais caros possuem design mais diferenciado. Quando alguém muito rico compra um carro, não quer saber do preço da revenda. Ele pode comprar um carro daqueles a cada dia, sem perder dinheiro, uma vez que acabaria recuperando-o na Bolsa de Valores ou na venda de X hectares de sua fazenda. Tampouco ele se preocupa com consumo. O preço é a última coisa que ele quer saber, é um acessório, um detalhe que vai apenas lhe chamar a atenção na hora de assinar o cheque. Quais são suas verdadeiras preocupações? Uma delas é o design. Ele está aliado diretamente ao status que o carro provoca. O design, o status, o desempenho, o som do motor, tudo isso está presente na lista de fatores emocionais, aqueles que o coração do consumidor e o posterior prazer consideram, e não a mente, que compara, com concorrentes da mesma faixa de preço, o quanto o carro gasta de gasolina por mês.
Enfim, consegui definir o conceito de carro verdadeiramente bonito – ou ao menos tentei. Para mim, é uma definição clara. O mais difícil, nesse sentido, é localizar exemplos reais e próximos que se apliquem à teoria que acabei de apresentar. Carros bonitos. Caramba. Você consegue dizer um carro bonito agora? Pois comecemos analisando o mercado premium, de carros superesportivos, aqueles cujos compradores são milionários bon vivant, que adoram um conversível para transitar entre os cassinos de Mônaco, naquele dia de sol.
Vou citar alguns exemplos de carros, ao meu ver, bonitos. Qualquer carro da Maserati e Aston Martin; Jaguar XF, Lotus Elise, Porsche 911, o novo Fiesta europeu, Saab 9-3 Turbo X (mas que tem ser preto, com aquelas maravilhosas rodas de três aros na cor grafite), Audi A5, e o Cadillac CTS, dentre outros. O carro mais bonito do mundo hoje? O Alfa Romeo 8C Competizione (foto abaixo, o carro vermelho). É o estado da arte na forma de automóvel. Pena que apenas 500 unidades foram produzidas ao preço absurdo de 250 mil dólares. Ainda sim, é um carro sublime.



Muitos acham os designs da Volvo totalmente sem graça. Não vou negar, até pouco tempo, eles realmente os eram. Basicamente, caixas de sapato com uma lanterna enorme atrás, ou sedãs com um formato que não variava nunca ao longo dos anos. A situação começou a melhorar com o lançamento do SUV XC90, que não é tão bonito. Quem faz as honras da escola sueca de design automotivo é o compacto C30 (foto abaixo, o carro branco). A traseira é simplesmente magnífica. Compraria um C30 apenas para colocar como elemento de decoração na minha sala. Abre-se, aqui, um aspecto que ajuda a definir o que é um carro bonito: aquele que tem um design clean, limpo, sem firulas visuais. A Volvo é mestre nisso. O novo crossover XC60 não é essencialmente clean, mas é verdadeiramente bonito. Aliás, o mais bonito de seu segmento. Sem dúvida alguma.A beleza, para muitos, entretanto, não é algo essencialmente concreto, como o design. A beleza pode vir do som do motor, da emoção atrás do volante, da excelência no desempenho. Carros que são bonitos concreta e abstratamente são completos. É nisso – a beleza sensorial – que a Volvo precisa trabalhar. Os carros são lindos e tudo o mais, mas pouca – ou nenhuma – emoção é obtida ao volante de um Volvo. São carros tão frios como o inverno mais rigoroso de Estocolmo.
Mas a beleza não se encontra apenas em produtos caros, onde por acaso é mais freqüente. Ela existe, menos comumente, com certeza; em carros mais baratos, os carros para as massas, que vendem pelos aspectos racionais e não pela beleza por si própria. Mas alguns se destacam, é o caso do Fiat Grande Punto. Não sou grande fã dos carros da Fiat, ela faz muita coisa horrorosa, mas o Punto é uma bela exceção. O designer, Giorgetto Giugiaro, possivelmente não estava bêbado como os outros designers da Fiat, que desenharam o Multipla. O Punto é um carro inspirado, lembra os desenhos dos Maserati, e talvez se venda pelo design, belo. É um exemplo real de como a beleza pode ser obtida em carros mais baratos. Tudo está no lugar, os detalhes coexistem maravilhosamente para formar um todo – o próprio carro. (foto abaixo, o carro verde: o Fiat Multipla. O carro mais feio do mundo. Segundo Simon Cowell, "parece que esse carro tem uma doença").
Retomo o ditado inglês: a beleza está nos olhos de quem a vê. O que acho bonito, já consegui expor: carros com design que fazem nosso coração bater mais rápido. Para muitos, a beleza é um design bem-resolvido. Acaba se tornando um critério muito vago, que abrange vários carros. Cito um episódio de Seinfeld, no qual Jerry e Elaine discutem qual é a porcentagem de pessoas bonitas no mundo. Elaine afirma que é 25%, Jerry afirma que não é mais de 5%. Aplicando sua estatística para o mundo dos carros, ele bem que pode estar certo.
Jeremy Clarkson também fez sua lista dos carros realmente bonitos. Nas palavras dele, "Outros carros realmente bonitos no mercado hoje, são o Lamborghini Gallardo, que é um dos carros mais belos já feitos – o Jaguar XKR conversível, principalmente se for cinza escuro – o Alfa Romeo 8C, o Citroën C5 Break, o Lexus IS200, o Corvette C6 conversível, o Dodge Challenger e o Maserati Quattroporte".

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4 Comments

  1. Isabella |

    Achei o artigo ótimo! Além de conter diversos dados, que são destinados mais as pessoas que entendem do assunto,tem informações muito bem colocadas que interessam a todo tipo de leitor.Gostei muito da comparação entre "carros realmente bonitos" e carros que apenas seguem as tendências de design.

     
  2. Anônimo |

    Como já te disse antes, achei esse texto seu muito interessante, a forma como você colocou o assunto foi muito boa. Você disse que a beleza está nos olhos de quem vê, e isso é verdade, mas você também colocou seu ponto de vista sobre o que é um carro bonito, e eu concordo com você. Parabéns pelo blog.

     
  3. Ana Bia |

    Ricardo, com todo o respeito do mundo, vai cagar: você disse que colocaria as fotos dos carros citados para facilitar o meu entendimento. O fez? Não. Devo dizer, entretanto, que não fui apenas eu a prejudicada, uma vez que poderia utilizar elogios mais eminentes nesse breve comentário.
    Ainda assim, não posso negar que seu texto ficou realmente bom e que, é claro, entendi a idéia geral. Muito o admiro quando o assunto é dissertação, senhor Ricardo.

    Aliás (aliás?), não que tenha muito a ver com seu texto, mas hoje encontrei a Michele no shopping, e... sabe a Simone? O NOME DELA É ANDRESSA. ANDRESSA! ANDRESSA, AHAHHAHA! MANTEREI MINHAS CINQÜENTA PRATAS, AH, COMO A VIDA É DOCE!!!

     
  4. Ana Bia |

    Agradeço muitíssimo pelo acréscimo de uma foto, haha! Adorei!

     

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