Nunca esqueça o saquinho. Nunca

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Written on 12:42 by Ricardo Paes de Barros

Aprendi que nunca, sob hipótese alguma, se deve esquecer o maldito saquinho plástico para limpar a sujeira do seu cachorro. E não venha com a desculpa que você esqueceu - essa eu já usei e não funcionou.
Estava eu um dia passeando com o Willy, meu simpático cachorro, de má vontade uma vez que não estava com vontade de fazer aquilo. E, claro, havia esquecido o saquinho - ou não quis levar, tamanha a irritação. Ah, meus senhores! Minha birra com o ato de catar o cocô se transformou em um grande conflito interior para mim.
O cachorro inventou de fazer suas necessidades bem no canteiro do prédio mais caro e pomposo da rua, lotado de seguranças mal-educados. Tendo esquecido o saquinho, optei por fingir que estava apreciando a bela construção do edifício durante sua ida ao "banheiro". Ao terminar, saí apressado. Um segurança, um velho de óculos e bigode, foi mais rápido e perguntou: Não vai catar não? Apressei em preparar um discurso de desculpas. "É, esqueci dessa vez, deveria ter trazido. Erro meu!". Ele fez uma cara feia e disse algo como "assim não dá", meio incompreensível. Continuei meu caminho, angustiado. Ainda tentei achar na rua um saquinho solto só para voltar até a calçada e jogar na cara daquele sujeito que eu era um CIDADÃO e tinha capacidade mental de admitir meu erro e consertá-lo.
Os dias se passaram e acabei esquecendo o acontecimento. Mas, último sábado, meu amigo Alberto veio para a minha casa e, obedecendo meu grande pai, levamos Willy para um passeio e sim, levamos a porcaria do saquinho.
Passamos em frente ao prédio daquele segurança mal-educado e discretamente peguei o saquinho nas minhas mãos, só para mostrar que, desta vez, eu o tinha. Ele estava meio dentro da guarita, rindo com seu amigo porteiro. Continuei andando e o cachorro foi inventar de fazer cocô do outro lado da rua. Fiz um grande teatro, peguei o saquinho e fiquei mostrando para todo mundo na rua, e limpei. Meu amigo Alberto jura que o segurança nem percebeu.
Andamos mais alguns metros e nos detivemos em uma casa, também com segurança. Willy fez mais necessidades. Não tínhamos outro saquinho a não ser aquele, usado. Minha idéia BRILHANTE: jogar na rua o cocô dentro do saquinho, e pegar de uma só vez os dois. Era uma tarefa relativamente fácil, e estava num ângulo de visão propício, para que o segurança velho do outro lado da rua vesse.
Depositei o cocô antigo na rua e virei o saco para não sujar minhas mãos, mas algo nojento aconteceu. Segundo Alberto, que falou em voz alta, eu confundi o lado do saquinho e enfiei a mão no lado sujo. O segurança, intrometido, afirmou: É, meu amigo, você realmente pegou com o lado errado! Cheira sua mão!
Eu cheirei. Soltei um palavrão que prefiro não repetir aqui, é um blog de família. Meu amigo Alberto - muy amigo, por sinal - ficou rindo de mim, colocando peso na minha consciência e afirmando que o segurança velho a quem eu tentava mostrar que era um real cidadão, capaz de assumir e consertar meus erros, ficou rindo de mim e me achando um verdadeiro idiota.
Eu discordei, falando que não seria tão burro a ponto de cometer aquele erro. Peguei uma folha no chão e mostrei, mimicamente, como catei o segundo cocô. "Não, você fez assim!", ele falava e mostrava. Chegando em casa, fui mostrar a ele, com um outro saquinho verdadeiro, como fiz - de forma correta e sem sujar as mãos. Na verdade, não consegui representar. "Tá vendo, você fez tão errado que nem consegue mostrar!".
Limpei a mão com álcool e concluí: SIM, SOMOS TODOS PASSÍVEIS DE ERROS! E um conselho para a vida toda - leve, de qualquer forma, o saquinho para catar as necessidades do cachorro. Provavelmente, sou motivo de piada entre os porteiros, seguranças, zeladores e faxineiros da Rua Emílio de Menezes. E, como eles são fofoqueiros, o assunto já deve ter chegado nos ouvidos dos funcionários do meu prédio. Ai, ai.
O irônico é que eu, distraído que só, vira e mexe sujo meus tênis nesse incrível bairro de Coconópolis, onde a higiene, por conta de pessoas COMO EU UM DIA JÁ FORA, sumiu.
Leve sempre o saquinho.
Observação: eu realmente gostei dessa foto que selecionei para esse post. É o jeito que escolhi para passear com o cachorro de agora em diante, blindando-se totalmente de qualquer interferência externa (leia-se seguranças!)

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2 Comments

  1. Anônimo |

    É bom levar no bom humor mesmo, e acho interessante levar dois saquinhos, para o caso de ocorrer uma situação como essas. hahahahahaha

     
  2. Ana Bia |

    Como diria você próprio, RI LITROS - como o Alberto, muy buena amiga.
    Ricardo, você diz que o Pedro se contenta com as coisas simples da vida, mas veja você próprio: querendo passar uma boa imagem aos porteiros, seguranças e faxineiros! Ai, ai...
    Definitivamente, meu querido, você não é um cidadão exemplar.

    E que colocação foi essa do verbo ver? "Vesse"?!?!?! MAS QUE RAIO..?!?!?!?!
    Gostaria também de obter uma definição científica confiável do que seria a blogsfera. Não conte ao André, ou ele nos frita como batatas.

     

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